Em desfechos de comédias românticas ou em comerciais de TV para o dia dos namorados, a cena mais explorada é a de um casal, com roupas claras e esterilizadas, se beijando. O que raramente se mostra, porém, são os outros beijos que tecem uma relação. Se pudéssemos acompanhar casais de verdade, não idealizados, e espreitar por trás do beijo cinematográfico, quais outros encaixes de boca encontraríamos?
Sal na boca
Depois do fim, a distância. Sete meses e dois bairros de distância. Ela cortada por culpa, ele atrofiado pela mágoa. Na última conversa, toda frase precisou de mais uma explicação, e toda explicação precisou de mais uma frase. Antes de seguir, queriam acessar o que um guardava do outro no peito e dizer algo definitivo e pacificador, só não sabiam o quê. Agradecer ou xingar, nada parecia finalizar o quebra-cabeça com 9 anos de história.
Agora, no aniversário dele, ela aparece na portaria do prédio com um presente. Não, não voltar, mas tirar a culpa. Sobe. Entra. Ele se lembra do fracasso das palavras: em vez de “Oi”, cola a boca. Mas o beijo salgado precisa de mais um beijo, e o beijo, este segundo, mais salgado, precisa de mais um beijo para também falhar em resolver a situação antes de ela ir embora do mesmo jeito que entrou, um pouco mais descabelada, e só.
Pequenas bocas abertas
“O que deixa bonita e irresistível cada parte do corpo do outro não são apenas seus próprios traços ou seu entorno, mas o modo como ela se oferece a nós. A boca, bonita nela mesma, fica ainda mais bonita se vista em relação ao queixo, nariz, bochechas, pescoço e os fios de cabelo que invadem os lábios; e totalmente bela quando pede por nosso toque, se abre e chama nossa própria boca.” (trecho do texto “Meu corpo sobre a beleza”)
Pés juntinhos, joelhos de costas, bunda para o alto. Cada curva que se insinua recebe um beijo. Poro que se oferece, beijo. Fio de cabelo saliente, beijo. Ombro que se desalinha, beijo. Uma sucessão de pequenas bocas abertas gemendo silenciosamente só para ele.
Na palma da mão
Colégio Monsenhor Alexandre Arminas. Cinco meninas da oitava série encantadas com dois meninos da sexta. Aconteceu de verdade: eu era um dos sortudos. Lembro bem do “Congresso do Jovem Cientista” daquele ano. Uma semana sem aula vendo o trabalho de todas as classes no auditório. A gente se cumprimentava com selinho, para inveja do pessoal da minha classe. Fizemos o trabalho juntos, visitamos consulados (a primeira vez que andei de metrô e pisei na Avenida Paulista), apresentamos e ganhamos.
Em um dos dias, antes da primeira apresentação, sentados no auditório, uma das garotas pegou minha mão e despretensiosamente começou a beijá-la com língua, com dentes, com tudo. Ela não sabe, mas é bem possível que aquele foi meu primeiro orgasmo a dois.
Mais do que saliva
Ele segura o cabelo dela. Quer ver o que ela está fazendo com a boca. Por alguns instantes, tem certeza que é o cara mais feliz do mundo. Então ela se levanta e vem com mais do que saliva para um beijo. Não é mais o gosto dela, não é mais o gosto dele. É a invenção do sabor do casal.
Amantes impossíveis
Eles se conheceram e se apaixonaram pela Internet. Ela passava o dia checando emails, ele não via a hora de chegar em casa para ligar o Skype. Um dia não aguentaram mais e decidiram ignorar a existência do marido, da esposa e dos filhos. Marcaram numa livraria. A conversa só engatou quando já estavam a caminho do motel.
Mais do que sexo, fizeram planos. Enquanto sonhavam juntos, perceberam que havia um problema. Se realizassem seus desejos, morreriam um para o outro como amantes e nasceriam como o marido e a mulher de quem eles tanto reclamavam. Adeus à ansiedade em checar emails e abrir o Skype. Adeus ao conforto em fantasiar encontros cinematográficos e descrever sonhos sem nunca ter de pagar o preço de realizá-los.
Na saída do motel, não trocaram telefones. Melhor assim. Hoje você entra no MSN? Entro, linda. Adorei aquele poema do Leminski, manda mais? Não se despediram. Beijaram-se no rosto e deram partida.
Enquanto ela dorme
“Há muito desisti de perguntar como tudo isso é possível e qual a sequência de eventos que fez você parar quietinha na minha cama. Logo você, sempre mexendo pés e mãos, agora imóvel, meditante profissional, estirada, dona do travesseiro que pensava ser meu.
Você é tão bonita que eu tenho medo de admitir isso até para mim mesmo. Só quando você dorme, incapaz de reagir, é que posso falar aquilo que você pede para ouvir acordada. De olhos abertos, você sorri, retribui, me abraça, me deixa orgulhoso, e acaba distorcendo a generosidade silenciosa que agora consigo expressar.
É isso. Digo antes mesmo de dizer. E você finge que não sabe que eu finjo quando olho e não digo. Mas é que, entenda, antes preciso te trazer pra cama, te cansar e te fazer dormir. Aí eu te beijo e falo. Sempre falo.”
22h22 é a hora do beijo
Para celebrar estes e outros beijos que a gente acaba inventando, O Boticário criou a Hora do Beijo. A idéia é que todo mundo beije além que ama – do jeito que der, nem que for a mão de uma amiga – às 22h22 do Dia dos Namorados.
Para divulgar a hora do beijo, vários casais ficaram se agarrando na Avenida Paulista (veja fotos e vídeos!), liderados pelos bonitões Danielle Winits e Cássio Reis.
Além disso, dia 12 de junho, das 22h às 23h, no site da campanha, haverá uma transmissão ao vivo em vídeo de um bate-papo entre blogueiros sobre beijo. Você pode participar via chat. Um é o Guilherme do Papo de Homem. Devem chamar algumas meninas lindas (nada divulgado por enquanto).
Eu fui convidada, mas estarei em retiro. Prometo que beijo a parede, ok?
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